Metrô. Fila do bilhete único. São 07 horas da manhã. Estou num dos lugares mais movimentados de São Paulo e a única pergunta que me vem a cabeça é: porque eu deveria contar a minha história? Olho para frente e vejo um senhor de idade, com a calça quase tão velha quanto ele. A camisa, de gola, presa por dentro da calça, um sorriso torto, e os olhos agitados. Ele segura a mochila na frente, como quem já foi assaltado ou morre de medo que um dia aconteça. Disperdiço uns vinte segundos em sua imagem para logo me distrair com uma mecha loira despencando por trás de sua mochila. Era da moça da frente, uma loira de parar o trânsito. Alta, magrela e com as pernas bronzeadas. Eu não faço idéia do que ela está fazendo aqui. Tem pressa, não pára de olhar o relógio e de bater os pés no chão. Algum horário no cabelereiro, alguma amiga doente ou uma entrevista nova numa empresa nova num bairro distante dali.
Fecho os olhos, tentando me esquivar do real motivo de estar ali. Uma garota baixinha passa bem próxima de mim e eu quase consigo sentir o ventinho que vem de seus passos corridos - quase!. Encosto na parede e dou uma olhada para frente, tentando enxergar o maior número de pessoas possíveis. Uma confusão de pernas e cores e alturas se perdem e misturam como se fosse um grande liquidificador com ingredientes pequenos demais. Um espirro. Talvez uma gripe, não sei. Viro pro lado e penso em dizer "saúde". Só penso, mas as palavras morreram para mim.
Então eu faço o meu jogo favorito. Aquele que eu sempre faço quando saio por ai, seja para visitar algum lugar, seja o motivo que tenha me levado aqui, hoje, no metrô. Eu brinco com as pessoas. Sempre fui observadora, sempre consegui extrair o máximo das pessoas só de olhar ou conversar. Era meu superpoder. Mas agora, agora eu brincava de outras coisas. Não é uma brincadeira desconhecida, sabe. Para dizer a verdade, a maioria das pessoas fazem, mas atribuiram a isso a palavra preconceito. A minha brincadeira é muito mais divertida. Não trata só de julgar, mas também de dar uma história para cada pessoa que eu esbarrasse na vida. (ok, isso foi uma piada ruim).
E foi assim que eu conheci ...hmm...vamos chamá-la de Lica (era o nome da minha cachorra).
(...)
O momento que levei para terminar de me distrair com a Beyonce que tocava no Ipod da loira e o tempo de reparar no cinto esquisito do policial que passava por ali, passei os olhos por uma pequena menina. E ela era pequena mesmo, tipo 1m50 e alguma coisa (para ser mais exata: 1m55, como descobri um tempo depois). Ela estava bastante agitada e falante, com o celular na mão, e uma bolsa de algum brechó barato na outra. Seu cabelo, liso, escorria pelo seu ombro e ela tinha na boca um brilhinho básico, desses que homem não entende, mas que o gosto é muito bom, porque eu já experimentei , sim. E recomendo os de baunilha. Hmm...
Mas então, a menina era assim, meio corridinha, meio da pá virada. Tive que correr muito para alcançá-la. Confesso que era divertido, assim, segui-la sem que me visse. Sentia uma detetive ou agente de FBI, e isso era um tanto quanto... diver. Alguns cento e quarenta e cinco passos depois, ela chegou onde ela queria. Ou eu cheguei onde queria. Uma plataforma vazia, praticamente. Exceto um ou dois passarinhos que repousavam no banco, estávamos sozinhas. E então ela virou na minha direção e perguntou exatamente com essas palavras: "Onde será que o Fred se meteu?". No começo eu assustei. Dei um pulo, confesso. Quase acreditei que estivess falando comigo, quase acreditei que eu fazia parte daquilo. Ela sustentou os olhos em mim, me fazendo questionar tudo que eu havia aprendido antes. Não podia ser possível, ela não estava me perguntando. "Hein, onde ele está? "- e virou para o lado..E eu? Eu não respondi nada.
Aquele dia, 24 de Setembro, completava um ano desde que eu havia morrido (pela primeira vez).
Fecho os olhos, tentando me esquivar do real motivo de estar ali. Uma garota baixinha passa bem próxima de mim e eu quase consigo sentir o ventinho que vem de seus passos corridos - quase!. Encosto na parede e dou uma olhada para frente, tentando enxergar o maior número de pessoas possíveis. Uma confusão de pernas e cores e alturas se perdem e misturam como se fosse um grande liquidificador com ingredientes pequenos demais. Um espirro. Talvez uma gripe, não sei. Viro pro lado e penso em dizer "saúde". Só penso, mas as palavras morreram para mim.
Então eu faço o meu jogo favorito. Aquele que eu sempre faço quando saio por ai, seja para visitar algum lugar, seja o motivo que tenha me levado aqui, hoje, no metrô. Eu brinco com as pessoas. Sempre fui observadora, sempre consegui extrair o máximo das pessoas só de olhar ou conversar. Era meu superpoder. Mas agora, agora eu brincava de outras coisas. Não é uma brincadeira desconhecida, sabe. Para dizer a verdade, a maioria das pessoas fazem, mas atribuiram a isso a palavra preconceito. A minha brincadeira é muito mais divertida. Não trata só de julgar, mas também de dar uma história para cada pessoa que eu esbarrasse na vida. (ok, isso foi uma piada ruim).
E foi assim que eu conheci ...hmm...vamos chamá-la de Lica (era o nome da minha cachorra).
(...)
O momento que levei para terminar de me distrair com a Beyonce que tocava no Ipod da loira e o tempo de reparar no cinto esquisito do policial que passava por ali, passei os olhos por uma pequena menina. E ela era pequena mesmo, tipo 1m50 e alguma coisa (para ser mais exata: 1m55, como descobri um tempo depois). Ela estava bastante agitada e falante, com o celular na mão, e uma bolsa de algum brechó barato na outra. Seu cabelo, liso, escorria pelo seu ombro e ela tinha na boca um brilhinho básico, desses que homem não entende, mas que o gosto é muito bom, porque eu já experimentei , sim. E recomendo os de baunilha. Hmm...
Mas então, a menina era assim, meio corridinha, meio da pá virada. Tive que correr muito para alcançá-la. Confesso que era divertido, assim, segui-la sem que me visse. Sentia uma detetive ou agente de FBI, e isso era um tanto quanto... diver. Alguns cento e quarenta e cinco passos depois, ela chegou onde ela queria. Ou eu cheguei onde queria. Uma plataforma vazia, praticamente. Exceto um ou dois passarinhos que repousavam no banco, estávamos sozinhas. E então ela virou na minha direção e perguntou exatamente com essas palavras: "Onde será que o Fred se meteu?". No começo eu assustei. Dei um pulo, confesso. Quase acreditei que estivess falando comigo, quase acreditei que eu fazia parte daquilo. Ela sustentou os olhos em mim, me fazendo questionar tudo que eu havia aprendido antes. Não podia ser possível, ela não estava me perguntando. "Hein, onde ele está? "- e virou para o lado..E eu? Eu não respondi nada.
Aquele dia, 24 de Setembro, completava um ano desde que eu havia morrido (pela primeira vez).
5 comentários:
Seus textos me fazem ter vontade de criar um blog. Não, isso não é nada bom! Hahahaha.
Como sempre mandando bem, me senti no metrô assitindo a "sena". Beijo.
"O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas, pretas e amarelas" (Drummond)
Maravilhoso, o que dizer? A leitura é tão gostosa quanto a de Fernando Sabino, e sempre deixam aquele pedaço de alma aparecer.
Morrer faz bem pra alguns, apesar de o processo ser doloroso. Geralmente vale a pena. Valeu?
Estou espantado de tão bom que foi isso. Sério.
MUITO FODA
haahha,macabro, diversão só superada por ficar sentado no banco do shopping, tentando fazer leitura a seco das pessoas que passa e imaginar suas vidas
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