30 de mar. de 2010

Brilho Eterno De Um Cabelo Paulistano

Sábado não tem fila no metrô. Você pode acordar a hora que quiser e testar isso, eu já testei. Eu não faço muita coisa no Sábado. Eu não fazia, na verdade. Eu costumava ser solteira, né. E dentro de algumas horas eu seria novamente. Eu estava indo para uma consulta que mudaria toda a minha vida. Eu já havia tentado de tudo, sabe. Eu tentei encontrar outra pessoa, eu tentei sair de casa, eu tentei jogar todas suas memórias fora. Mas não dava, não. Eu simplesmente não conseguia esquecer o Joe.

O J. é desses caras maravilhosos que você passa a vida toda desejando conhecer. Quer dizer, quando eu tinha uns catorze anos e fazia testes na Capricho sempre dizia que eu era alguém apaixonada, disposta a casar cedo. Mas não aconteceu. Sempre pus a culpa na Revista. Eu? Fazia nada errado. É verdade que eu era um pouco diferente, vai. Mas nada que prejudicasse muito o andamento de uma conversa, por exemplo.

Eu podia falar sobre tudo. Absolutamente qualquer coisa.Talvez não poderia falar sobre ações no mercado de abelhas, mas eu nunca conheci alguém que soubesse disso, realmente. De modo que eu poderia simplesmente fingir e comentar algo por cima como "Já estive próxima de méis que me fizeram duvidar do bom senso do mercado". Eu poderia, é claro. Eu já tinha feito isso, inclusive.

O metrô fazia muito barulho e agora eu só conseguia me preocupar em não sacudir muito a caixa. Fui alertada para isso. Dei mais um nó na sacola e guardei junto ao meu colo. As pessoas me olhavam, curiosa, o que essa garota de cabelo azul faz segurando essa sacola tão preciosa.Sim, meu cabelo era azul. Gostava de pintar quando algum relacionamento meu acabava, para marcar uma fase da vida. Que nada. Gostava de pintar porque era louca, mesmo.

Eu tinha um encontro. Na verdade, era um compromisso. Eu estava indo pintar meu cabelo de laranja, porque um novo relacionamento tinha acabado. Eu não lembrava muito dele, na verdade. Sabia que tinha me magoado muito de tal forma que não tocava no assunto para poder seguir em frente. E não era fácil, é verdade, mas eu estava fazendo o que podia. E era sempre o que eu fazia.

Então desci do vagão e saí correndo para a escada rolante porque estava com pressa e esbarrei num cara qualquer e

Dia dos namorados. Odeio dia dos namorados. Tudo que eu precisava era fugir daquele dia, fugir para algum lugar. Eu precisava me encontrar. Lembro que minha mãe me disse uma vez que quando não sabemos a resposta de alguma coisa, nós buscamos no local de origem. E minha mãe e meu pai tinham transado no Parque Ibirapuera, então achei que seria ok ir lá dar um pulo.

Era uma tarde de Sábado quente, sabe. Eu poderia pedalar, andar de bicicleta, sei lá. Talvez um piquenique? É verdade que tinha uma rosca gostosa na padaria na esquina da minha casa mas eu já estava meio longe de lá. E cansado. Eu não queria voltar até lá, não é possível que não tivesse roscas gostosas em outro lugar dessa cidade. Talvez esse fosse meu grande objetivo de hoje, talvez tudo que eu precisasse era encontrar uma rosca gostosa e comê-la no parque.

Ou talvez esse tenha sido o pensamento mais patético de toda a minha vida.

A vida passa num piscar de olhos e eu pareço meu pai falando. Eu já tenho 34 anos, sabe. A bem da verdade é que eu não faço idéia da minha idade. Digo isso porque minha mãe me registrou numa data diferent da que eu nasci, porque o cartório ficava longe e ela tava com preguiça. Mas em algum lugar da minha carteira está anotado perai deixa eu ach

- CARALHO, OLHA ONDE ANDA

A moça mais linda gritou comigo. Tão linda que não consegui sentir raiva.

- Desculpe, é que eu...

- Tudo bem, tudo bem, eu não queria ter dito isso também. Ela sorriu. O sorriso mais lindo que eu já tinha visto. E então eu esqueci a rosca, o parque, a minha mãe e o meu pai tocando uma pra vizinha. Ah, eu não tinha contado essa história? Bom, deixa para depois. O importante eram aqueles olhos lindos, aquele cabelo liso, e azul. E como brilhava. Antes de deixá-la embora, eu tinha que saber. Eu precisava perguntar. E foi o que eu fiz. E ela respondeu, quase gritando, correndo para as escadas]

- Meu nome? Meu nome é Clementine.


6 comentários:

AP disse...

Essa idéia fixa de comer rosca no Ibirapuera você pegou do maníaco do parque, não?

gatts25 disse...

Olá ma aqui o wesley tudo bem
essa coisa de de correr rosca no parque e foda em fico com um belo duplo sentido ahuahauhaua
que coisa viu pirigueth!

Gleds disse...

Ah, os isentos...!

Mudando de assunto, ótimo filme...

Rodrigo Huagha disse...

Nunca te vi , sempre te amei. Fazia tempo que nao lia aqui e que bom que fazia tempo , pois li e amei . Um dia a gente coincide e faz algo. Audiovisual.

Cineasta81 disse...

Nossa, eu era seu leitor das antigas. Agora te encontrei no twitter sem querer. Algum conhecido meu te retuitou, vi o nome do blog e reconhecí, e olha eu aqui de novo rss

J. disse...

Ora, obrigado pela homenagem!