4 de dez. de 2010

São Paulo

Hoje faz um ano e meio que eu me mudei para São Paulo. Você provavelmente não sabe mas eu já mudei mais de quinze vezes. Meu conhecimento sobre São Paulo limitava-se a vir assistir filmes de estréias quando não aguentava esperar e passear no shopping em épocas próximas ao Natal, que era comemorado sempre em MG. Sim, Minas. Eu sou de lá. A cidade onde nascitem 90 mil habitantes. Nunca havia pegado um ônibus.

Lembro até hoje da primeira vez que peguei um ônibus aqui em São Paulo. Nessa época eu morava numa cidade que fazia parte da grande São Paulo porém ficava uns 15km do centro da capital. Eu precisava atravessar a zona oeste de São Paulo e ir até a praça da República, no centro, onde fazia cursinho. Acontece que não tinha um ônibus somente que fazia esse caminho, e eu precisaria descer em uma ponte e pegar um outro ônibus. Lembro o pânico que senti ao pensar que teria que descer em uma ponte e esperar em um lugar que eu não conhecia um outro ônibus que me levaria para outro lugar que não conhecia.

Com pessoas que não conhecia.

Mas eu tava ali, tinha que ir pro curso, e se era o que eu queria eu tinha que dar um jeito de conseguir. Se fosse um filme, teria tocado a 9ª sinfonia, sim, aquela mesma de laranja mecânica e eu nem quero pagar de ai-conheci-beethowen-antes-de-laranja-mecânica porque a única razão pela qual eu conheci Beethowen antes de Laranja Mecânica foi porque tinha um parente distante chamado Mozart e quando ele veio nos visitar minha mãe me contou um pouco sobre piano. Mas, voltando pro ônibus, não sabia como consegui entrar uma vez que tinha mais de 60 pessoas dentro daquele ônibus. Eu sei porque eu fiz questão de contar. Eu era uma caipira solta na cidade grande num ônibus com mais gente que o meu bairro inteiro. Gente se empurrando, gente com rádio no último som, gente conversando, gente com cheiro de café, gente com jornal na mão, gente com cara de gente. Eu adorei aquilo. Sério, eu adorei. E eu realmente me deslumbrei com aquela quantidade de pessoas de etnias e regiões diferentes ali na minha frente sem se conhecer sem talvez nunca mais se esbarrar dividindo o mesmo espaço. AFF MARINA ERA SÓ UM ÔNIBUS. Ok, para vocês era apenas um ônibus. Para mim era uma lição de vida.

Brincadeira só queria soar dramática.

Mas era divertido, mesmo. Eu fiz amizade com o motorista logo de cara. Aliás uma coisa que eu havia me acostumado em Minas era falar com as pessoas, é algo que você acaba trazendo com você. Se você não conhece São Paulo, talvez você se assuste um pouco com isso. Logo que cheguei minha tia me levou num shopping e ao entrar no banheiro uma faxineira entrou também e eu dei bom dia. Ela não respondeu, tava apressada limpando as coisas. Quando saí já era outra mulher que limpava o banheiro. São Paulo é assim: você passa 2 minutos no banheiro e quando você abre a porta tudo muda novamente.

O bom do busão é que o meu ponto era o último então eu não precisava ficar no meio por muito tempo. Acabava encostada na frente conversando com o motorista e quando chegava o último ponto, o vigésimo quinto, eu simplesmente descia e ia pro meu cursinho que começava ás 08h30, exatamente 3 horas depois que eu levantava e começava a jornada para sair de casa. Se o seu ônibus é lotado você precisa desde então ir em direção a catraca ou você provavelmente não descerá no seu ponto. E isso acontecia muito. E não adianta xingar o motorista porque ele tá cansado de passar por isso e geralmente não se importa com você.

Aliás, aqui as pessoas não se importam com você. Existe algo de mágico nisso. Por um lado você pode andar na rua vestida de girafa que ninguém vai achar tão estranho. Ou você faz parte de flashmob, ou você é um palhaço ou um assassino disfarçado. Não interessa. Estou atrasada e não vou parar para descobrir o que aquela girafa tá fazendo pendurada no lustre na Paulista. Vou apenas continuar minha vida e talvez depois eu pesquise em algum portal de notícias o que é aquela girafa tava fazendo ali durante o dia.

E existe a parte ruim. A parte que você vai ser jogada da Sé porque abriram as portas do metrô e a quantidade de gente é tão imensa que você não sai do trem, você explode. E tem que tomar cuidado para não cair em cima de ninguém porque isso é meio chato e ás vezes acaba machucando. E ás vezes a pessoa tá armada.

Brincadeira.

O máximo de violência que existe no metrô são os olhares de pessoas quando alguém senta no banco de idosos ou os suicídios naaaaaaaaaaaada divertidos nos horários de pico. Sim, meus amigos, pessoas se jogam muito na frente do metrô talvez por acharem que é uma morte menos mórbida. As notícias nunca vão para a mídia porque são maquiadas com "atenção: o metrô irá parar por alguns intantes porque um objeto não identificado foi encontrado na estação da Sé". Porque melhor um etê rondando o metrô de São Paulo do que uma pessoa se jogando né não?

São Paulo é uma espécie de cidade-inútil. Você talvez não precise de comida mexicana ás 04h00 de um Sábado véspera de feriado mas caso você precise existe algum lugar. Você também não precisa de um lugar que tenha boliche e balada ao mesmo tempo mas a idéia parece tão legal né? E um bar tão gelado mas tão gelado que você precisa de roupas próprias para aguentar o frio lá dentro?? E um puteiro onde as mulheres da vida se vestem com roupas de carnaval?

Existem restaurantes e peças musicais e teatros dos mais variados gostos garantindo que qualquer tipo de gênero não seja deixado de fora e todas as pessoas sejam atendidas desde os freaks aos mauricinhos. E existem as filas. Em São Paulo você enfrentará filas em praticamente qualquer lugar que você esteja. Seja para comer, ir ao banheiro, passear e até ajudar alguma instituição. Sim, já enfrentei fila para ajudar uma instituição de animais. 2h30. Não á toa São Paulo tem dos salários mais altos do país. Não é porque aqui o custo de vida é alto também, mas porque ganhando bem você pode comprar um PSP ou um sodoku eletrônico e jogar enquanto enfrentam as filas enormes da cidade. A fome tá apertando e a fila não chega? Ok, eu tenho um jogo de pôker online me esperando.

Mas nunca em momento algum achei que conheceria tanto sobre São Paulo e me apaixonaria tanto por aqui. É só 1 ano e meio mas com certeza um ano de muitos. Desculpe por tudo que já disse sobre você porque você tem proporcionado os melhores momentos da minha vida.

E os piores também.

Mas enquanto reflito sobre eles deixa eu ali pedir uma comida mexicana.

2 comentários:

Biela disse...

Má... Que texto incrivelmente fofo. Lendo outros textos seus (principalmente aqueles sobre a semana de um paulistano), eu sempre achei que apesar de você manter suas raízes mineiras, São Paulo te abraçou e você abraçou São Paulo. Mas muito mais do que alguém que simplesmente mora aí, você vive. Você observa, analisa e entende.

Adorei =)

Ricardo Siqueira disse...

Eu não passo um dia sem falar mal da cidade mas ja tentei morar em uma qtd razoável de outras capitais e sempre acabo voltando correndo.
O que a cidade tem de pior é causado pelo que de melhor ela pode porporcionar é uma coisa louca isso