4 de abr. de 2008

Capítulo Um

Sete horas da manhã . Estação da Sé. São Paulo capital. Eu vejo milhares de pessoas por ali. Algumas parecem decididas, com a maleta na mão, outras apressadas, aquele empurra-empurra básico, casais que se despedem indo cada um pro seu lado viver dias diferentes. Pessoas com olheiras estampadas revelando um fim de semana de muita farra. Olhos cansados, olhos famintos, muitos fones de ouvidos e Ipod’s.

Um homem de casaco verde me chama a atenção.Traz nas costas uma mochila rasgada e em seus olhos uma expressão confusa. Será que seu turno só acabou agora e então ele retornará para sua casa, para curtir sua familia? Mas talvez sua esposa já tenha ido trabalhar e sua filha esteja indo pra escola. Ou talvez sua esposa tenha morrido e ele não tenha filhos e ninguém mais para esperá-lo em casa. Qual será sua história?

Eu poderia escutar todas aquelas pessoas a minha volta, eu poderia entrar em seus mundos se elas permitissem. O homem anuncia a estação, impedindo-me de continuar viajando e as portas se abrem. Enquanto me preparo para sair do vagão, abro a bolsa, discreta, procurando o celular, e acabo derrubando um cd do U2 no chão. Abaixo para pegar, mas alguém chuta sem querer e ele cai exatamente naquele vão que separa a estação do trem...

- ATENÇÃO, A ESTAÇÃO JABAQUARA-TUCURUVI IRÁ PARAR POR ALGUNS MINUTOS PARA FAZERMOS A RETIRADA DE UM OBJETO NA ESTAÇÃO SÉ. JÁ RETORNAMOS, OBRIGADA.

A linha azul, uma das mais movimentadas, pára por quatro minutos ás 07h00 da manhã de uma Segunda-feira. Centenas de pessoas, algumas atrasadas para chegar ao seu destino, outras voltando do trabalho, outras indo embora, mas provavelmente todas, sem exceção, desejando a minha morte. Mas ninguém sabia quem tinha derrubado o cd, porque eu já tinha fugido dali para outra linha há muito tempo.

Estava triste e cansada...e aquele cd era a única coisa que iria me alegrar por hoje. Sete e meia da manhã . Estação Consolação. São Paulo capital. Eu vejo milhares de pessoas por ali. As escadas rolantes lotadas, de modo que algumas pessoas usavam a escada para chegar mais rápido. Eu não tinha pressa alguma. Apenas alguns minutos me separavam da minha antiga vida para a que eu estava perto de começar e eu sentia muito medo. E tinha derrubado o meu cd preferido embaixo do metrô alguns minutos atrás. Sim, eu estava me mudando para São Paulo. Vou pular aquele clichê de menina-do-interior-indo-tentar-a-vida-na-cidade-grande. Eu já conhecia a cidade, ainda que a última vez que eu tinha vindo aqui fazia cinco anos. São Paulo tinha mudado muito. E eu também.

[Fim da greve de escrever, início do meu livro tããão desejado por mim.]

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