30 de nov. de 2006

"Como vai você?"

- Alô? Tá interessada?, perguntou uma voz rouca do outro lado da linha. Silêncio. A formiga atravessa a parede com dificuldade, o café esfria dentro da geladeira. O celular toca: “Alô, como vai você?” é a pergunta que ela menos quer ouvir.

Ana Beatriz tinha apenas quinze anos quando sua mãe avisou que elas teriam que se mudar dali. Mal despedira dos amigos e já estava dentro do caminhão de mudanças. Mudanças pequenas, mudanças grandes, a vida toda ela era acostumada assim. A mãe não tinha muito dinheiro, o pai pretensões.

A menina tinha dificuldade de se adaptar mas ninguém estava muito interessado em sua vida, tinham mais o que fazer. De tanto fazer coisas, a mãe morreu de cansaço e o pai morreu de rir. Riu tanto que acabou morrendo de verdade.

No enterro ela conheceu o Miguel e eles trocaram o MSN. Depois, mais tarde, ela entrou no seu fotolog e sentiu que a coisa era diferente. Ele tinha uma expressão diferente, um rosto delicado. Meio viado, diria sua amiga Joyce, que Deus a tenha, morta na enchente passada. Ele ficou on, eba, pensou Ana Beatriz, e puxou papo como quem não quer nada:

- Mas então...você não se sente muito sozinho?
- É claro, sua tonta, eu sou coveiro.

E ela riu, e eles riram , e dezenove meses depois os gêmeos também ririam. Largara o cemitério, ela largara a cidade e foram juntos tentar a vida na capital, sustentar melhor a criançada toda. Ela foi na frente pra encontrar um apartamento, ele ficou com as crianças esperando.

Puxou a mãe,danada que só, tratou logo de procurar o apartamento. Abriu o jornal, escolheu a melhor opção e marcou um círculo vermelho pra não esquecer depois. Virou a página incêndio mata duas crianças e o pai. Eram seus filhos, era Miguel, era sua vida caindo outra vez. O telefone toca.

- Alô? Tá interessada?, perguntou uma voz rouca do outro lado da linha. Silêncio. A formiga atravessa a parede com dificuldade, o café esfria dentro da geladeira. O celular toca: “Alô, como vai você?” é a pergunta que ela menos quer ouvir.

13 comentários:

salvaterra disse...

E eu que vou como quem anda, parei pra ler tristeza e perda. ótimo conto.

Rodrigo Huagha disse...

eduardo e mônica.me lembrou.bacana

Anônimo disse...

Nota 10
você é a melhor do mundo
meus parabéns
:)

Má B. disse...

Marcão diz:
comentar sem ler é o que há

Anônimo disse...

SUA... SUA.. SUA.. SERIAL KILLER DE PERSONAGENS DE CONTOS...

Anônimo disse...

Achei o link do seu Blog na comunidade Blogs brasil do orkut, Ta de parabens pelo conteúdo, conitnue assim!
abraços!

Anônimo disse...

Mto bom má, não podia esperar menos da minha namorada

Te amo mto, Bejão

Anônimo disse...

Nina o...o...Jack morreu.

Anônimo disse...

gostei muito!

Anônimo disse...

Até que eles eram uma brasa, mora?

PS: muito bom!

Anônimo disse...

caraca... qta morte???
mas a historia é boa...
senti pena da guria... mas a vida é assim... quem nasce pra viver sozinho... assim vivera... e o coveiro... nao poderia largar o cemiterio... a vida dele era aquilo... uma pena ele querer levar as crianças junto... foi egoista eu acho...

salvaterra disse...

quando é que posta mais hein? ah, vejo agora que isso de blog é uma tristeza.

Anônimo disse...

Nem é tão triste assim, é bem legal de se ler. ^^