4 de jun. de 2010

Marcas

Lembro quando aos dez anos de idade era ok pegar o estilete e riscar um ELE torto no braço para homenagear o Léo DiCaprio, na época, um ídolo. Não por Titanic, mas por What's Eating Gilbert Grape, a primeira grande atuação do Léo. Na minha cabeça, pelo menos. Eu até tentei, sabe. Minha mãe tinha um estilete Eu fiquei refletindo várias horas na frente do espelho. Eu fiquei pensando "Mas eu vou ter essa marca pro resto da vida, e eu não sei se vou gostar do Léo pro resto da minha vida".
Eu só tinha dez anos e já estava preocupada com o tanto de tempo que duraria aquela marca e como eu lidaria no futuro com essa marca. Eu nem sabia se eu ia ser atropelada no dia seguinte e minha vida acabaria assim, mas eu já me preocupava com essa pequena marca no meu braço. Eu me casaria? Eu teria filhos? E um dia, quando eles crescessem, eu diria "meus amores, eu trouxe de presenta para vocês esse estilete da mamãe. Quando vocês estiverem prontos, iremos nos reunir numa salinha cada um com uma foto do seu ídolo favorito e nos cortaremos juntos, unidos pelo sangue, unidos nessa família linda".
O Léo cresceu , fez Catch Me If You Can, Blood Diamond, The Departed e porque não The Aviator, afinal de contas nem todo mundo é perfeito. Eu cresci e conheci outras pessoas. Conheci Woody Allen por exemplo. Um W seria ok porque eu poderia dizer que é o M de Marina ao contrário e as pessoas acreditariam porque ninguém acha que uma criança seria retardada o suficiente para fazer um W de Woody Allen na mão.
Então eu desenhei com uma caneta qualquer um ele torto, joguei ketchup e tirei uma foto. Eu só tinha dez anos e já sabia fingir marcas. E já fazia as pessoas acreditarem. O tempo passa e você aprende a manipular sentimentos, emoções, pessoas. Aprende a lidar com elas, a brincar com elas. E elas fazem o mesmo com você. A diferença é que a marca da gilete é muito maior que a marca que fica sem marca. É mais superficial. Você põe uma blusa por cima, põe uma luva e ela some.Outras marcas não são tapadas por blusas.E tem umas que sujam mais que ketchup.

3 comentários:

Juliana Dacoregio disse...

E como sujam! E como marcam! Mais que estilete, mais que queimadura, mais que tatuagem.

Ismael Patriota disse...

nossa, primeira vez q vejo uma mulher falar um pouco sobre sua infância...rsrs
o blog ta muito bom...parabens!

Anônimo disse...

"O tempo passa e você aprende a manipular sentimentos, emoções, pessoas. Aprende a lidar com elas, a brincar com elas. E elas fazem o mesmo com você. " - :D perfeito.

Quero ficar no teu corpo... feito tatuagem :D que é pra te dar coragem, pra seguir viagem e tudo o mais :B